Leandro Juárez Liberatori
Resumo
O presente trabalho visa recuperar e sistematizar o conhecimento relativo à memória do processo de deslocamento compulsório produzido pela construção da barragem de Tucuruí (PA), nos anos 70 e começo dos anos 90. O caso será abordado desde duas perspectivas: por um lado, o ponto de vista das diferentes organizações de atingidos que surgiram na época, e por outro lado, da visão da empresa estatal responsável pela realização da obra, a Eletronorte. A tal fim, nos remeteremos aos diferentes documentos produzidos na época do conflito desatado pelo deslocamento compulsório (1973-1984) por parte destes dois conjuntos de agentes, caracterizados como documentos de memória em processo, ou de curto prazo. Num segundo momento, analisaremos os documentos feitos com posterioridade à inauguração da usina e ao processo de relocações, os quais estão atravessados por uma mudança na conjuntura política, tanto do país com a transição democrática; do setor elétrico, que começará a dar mais importância às problemáticas socioambientais; e do Movimento que, logo após o deslocamento compulsório, terá novos objetivos. Estes documentos terão como base a memória da experiência dos principais fatos do conflito desatado pelo deslocamento populacional (1973-1984) para atingir diferentes objetivos estratégicos. Nesse sentido, caracterizaremos este tipo de memória como memória pós-conflito, ou memória de longo prazo. Assim, abordaremos a memória do conflito ocasionado durante toda primeira etapa de Tucuruí (1973-1992) como um campo em construção onde os agentes envolvidos acionam diferentes estratégias políticas e discursivas em diferentes períodos que visam legitimar a perspectiva desde a qual se posicionam. Desta forma, buscaremos mostrar que a memória não é neutra nem espontânea, senão que a construção dela, está atravessada pelos interesses em jogo dos agentes que a evocam.
Palavras-chave: Memória, Atingidos por Barragens, Movimentos Sociais, Grandes Projetos.