Artigos

O papel da escrita na construção de causas públicas: uma análise do acervo de documentos produzidos por grupos de atingidos pela Usina Hidrelétrica de Tucuruí, Pará

Henri Acselrad

Resumo
O presente texto discute o processo de produção dos artefatos impressos elaborados por diferentes entes associativos formados ao longo do conflito que opôs os atingidos pela barragem de Tucuruí e a Eletronorte, empresa estatal responsável pela construção da obra. Com base em um acervo de documentos impressos produzidos pelo movimento de atingidos, são aqui analisadas as situações de escrita, os atos de escrita e os usos sociais da escrita, bem como seu papel na veiculação de denúncias de situações percebidas, pelos atingidos, como injustas.
Palavras-chave: atos de escrita; atingidos por barragens; rio Tocantins; Hidrelétrica de Tucuruí.

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A ´memória técnica` nos grandes projetos de infraestrutura – considerações sobre a aplicação da noção de memória a fatos técnicos

Henri Acselrad

Resumo
O artigo discute a associação problemática entre as noções de memória e de técnica nos relatórios produzidos por instituições promotoras de grandes barragens. Analisando a documentação do setor elétrico relativa à construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, o trabalho ressalta o modo como o esquecimento — metodologicamente construído — da memória dos grupos sociais atingidos contribui para o entendimento do “social” pelos promotores dos grandes projetos como um simples problema instrumental “a resolver”.

Palavras-chave: memória; técnica; grande projeto; Tucuruí.

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A memória política como estratégia de conformação e ação do Movimento de Atingidos pela Barragem de Tucuruí. (2018)

Leandro Juárez Liberatori 

Resumo
O presente trabalho pretende mostrar como o uso da memória política, manifestada em diferentes materiais escritos, permitiu que os atingidos pela usina hidrelétrica de Tucuruí passassem de reivindicações particulares a um movimento organizado, que se posicionou como um interlocutor legítimo diante da empresa construtora, a Eletronorte, na luta por indenizações justas entre os anos 70 e o começo dos anos 90. Para tal fim, será feita remissão aos diferentes documentos produzidos por eles durante o conflito e utilizados em diversas circunstâncias de negociação com a Eletronorte. Nesse sentido, cabe abordar a memória do processo como um campo em construção, no qual os agentes envolvidos acionam diferentes estratégias políticas e discursivas, que visam a legitimar a perspectiva segundo a qual se posicionam. Dessa forma, busca-se mostrar que a memória não é neutra nem espontânea, e que sua construção é atravessada pelos interesses em jogo dos agentes que a evocam.

Palavras-Chave: Memória; Atingidos por Barragens; Movimentos Sociais.

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A memória dos “atingidos” pela hidrelétrica de Tucuruí (Pará, Brasil)

José Carlos Matos Pereira

Resumo

O artigo aborda da luta do Movimento dos Expropriados pela hidrelétrica de Tucuruí que, nos anos de 1970-1980, resistiu frente à ação do Estado e do capital demandantes de energia para os grandes projetos na Amazônia brasileira. Dessa forma, apresenta-se, do ponto de vista dos atingidos, os fatos ocorridos naquela época. Trata-se de um trabalho sobre a memória desse movimento, constituído a partir de depoimentos, documentos, matérias de jornais e levantamento fotográfico, que tem por objetivo trazer as lutas, resistências e as dificuldades dos “excluídos da história”, silenciados pelo poder hegemônico e penalizados pela implantação deste empreendimento. A análise permitiu recompor um pedaço da história silenciada por muitas décadas, contribuindo no questionamento da “hierarquia de credibilidade” e propiciando, por meio da pesquisa, o direito à voz destes sujeitos.

Palavras-Chave: Grandes Projetos; Hidrelétrica de Tucuruí; Movimentos Sociais.

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Cidade e hidrelétrica na Amazônia brasileira: espaço e memória entre o “velho” e o “novo” Repartimento (Pará)

José Carlos Matos Pereira

Resumo

Os grandes objetos marcam a paisagem recente da Amazônia e desestruturam vidas preexistentes nos lugares onde se instalam, como aconteceu com o empreendimento hidrelétrico de Tucuruí, estado do Pará, inaugurado na década de 1980. Novas configurações socioespaciais ocorreram com a construção desse projeto, acompanhadas de expropriação, violência, baixas indenizações e promessas não cumpridas, resultando na criação do Movimento dos Atingidos pela Hidrelétrica de Tucuruí. Apoiado em bibliografia específica, fontes documentais e entrevistas, o artigo aborda essas transformações. Mostra, a partir das lembranças de antigos moradores, a Vila de Velho Repartimento, onde se percebem os construtos socioespaciais, os elementos de sociabilidade e as relações de trabalho antes do enchimento do lago de Tucuruí

Palavras-Chave: Grandes objetos; Hidrelétrica de Tucuruí; Velho Repartimento; Novo Repartimento; Movimento dos atingidos.

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Organizações de atingidos pela UHE-Tucuruí: Regimes de verdade e constituição de ações coletivas. (2018)

Rodica Weitzman 

Resumo

Este artigo tem como objetivo analisar o processo de organização dos atingidos pela UHE de Tucuruí durante diferentes fases de intervenção da empresa hidrelétrica, destacando os modos pelos quais as identidades desses povos são redefinidas situacionalmente em processos de mobilização continuada. Ademais, revela a evolução em suas configurações organizacionais, atentando para as alterações observadas nas estratégias e nos focos temáticos em distintos períodos históricos, marcados primeiramente pelo regime autoritário e depois pelo processo de redemocratização no Brasil. A metodologia adotada privilegia os documentos produzidos pelos grupos de atingidos como fontes de informação, uma vez que é por meio deles que estes coletivos organizam uma plataforma de reivindicações. Conclusões preliminares revelam que os grupos de atingidos introduziram inovações, tanto nos dispositivos utilizados para sensibilizar e provocar mudanças em seu alvo – o Setor Elétrico –, quanto na natureza das demandas que faziam parte de seus repertórios de ação política, face às alterações drásticas no quadro socioambiental.

Palavras-Chave: Identidades; Movimentos; Negociações; Impactos; Tucuruí.

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“Documentos” e “procedimentos técnicos”: saberes e métodos em disputa na UHE-Tucuruí

Rodica Weitzman 

Resumo
Neste trabalho, analisamos a construção e o manejo de documentos durante a fase inicial de intervenção da empresa hidrelétrica Eletronorte, em Tucuruí, Pará, no cerne de processos de deslocamento compulsório. A intenção é delinear as repercussões dos modos de operacionalização de um amplo leque de documentos – cadastros, inventários, planilhas, tabelas – sobre o processo organizativo dos movimentos embrionários que se aglutinaram em torno de focos de resistência à obra hidrelétrica desde o final dos anos 70 até o início dos anos 80. A revolta expressada pelos movimentos de resistência reside justamente na forma como o Setor Elétrico conduzia a gestão das pessoas e dos bens, com base em uma abordagem que padronizava os efeitos e mensurava os danos, sem considerar as condições específicas de cada um dos segmentos atingidos. São explicitadas aqui, por meio de uma abordagem etnográfica, as tentativas de travar um diálogo com a Eletronorte acerca dos critérios que guiavam a lógica das indenizações e que subsidiavam o conjunto de dispositivos metodológicos utilizados nas intervenções no campo social. Neste exercício analítico, partimos do entendimento de que os documentos produzidos – e depois re-arranjados e re-estruturados por meio de interpelações com outros atores sociais – desvelam regimes de verdade que não se cristalizam ao longo do tempo, uma vez que são passíveis de reformulações constantes. A hipótese testada e comprovada aqui nestas páginas é de que a gestão de arquivos é um processo permeável às dinâmicas que atravessam os processos sociais.
Palavras-chave: Deslocamento Compulsório, Setor Elétrico, Documentos, Procedimentos Técnicos, Indenizações.

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Ditadura, interesses empresariais e desenvolvimentismo: a obra da usina hidrelétrica de Tucuruí

Pedro Henrique Pedreira Campos

Resumo

O artigo pretende problematizar os interesses empresariais em torno do projeto da usina hidrelétrica de Tucuruí, construída durante a ditadura civil-militar brasileira. Indicando a falta de transparência na condução do projeto e do uso dos recursos públicos, analisamos a atuação dos diferentes beneficiários da obra, no que tange a aspectos como o financiamento, a realização da obra, a exploração da madeira da área inundada e o consumo da energia subsidiada por indústrias eletro-intensivas. Para proceder aos argumentos, acessamos fontes primárias produzidas por diversos agentes envolvidos no empreendimento. Concluímos que a usina de Tucuruí expressa em boa medida o perfil da ditadura brasileira, que, ao advogar por um discurso desenvolvimentista e nacionalista, escondia, por trás dele, interesses empresariais que se beneficiavam de seus projetos e do próprio caráter autoritário do regime, que garantia, dentre outras coisas, uma alta exploração da força de trabalho e elevadas margens de lucro às empresas.

Palavras-chave: Usina Hidrelétrica de Tucuruí. Grandes Barragens. Ditadura Civil-Militar Brasileira (1964-1988). Empresariado. Desenvolvimentismo.

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Ditadura, interesses empresariais, fundo público e “corrupção”: o caso da atuação das empreiteiras na obra da hidrelétrica de Tucuruí

Pedro Henrique Pedreira Campos

Resumo

O artigo trata dos interesses empresariais durante a ditadura civil-militar brasileira envolvidos em casos de “corrupção”. Especificamente é trabalhada a atuação das empreiteiras na obra da usina hidrelétrica de Tucuruí, construída entre 1975 e 1984. O texto procede uma breve reflexão teórica sobre o tema da “corrupção”, problematiza a ocorrência desses casos durante a ditadura e faz um tratamento empírico e analítico da atuação das construtoras e seu envolvimento com irregularidades na obra de Tucuruí. Com o uso de jornais, dados oficiais da Eletronorte e memórias de agentes das empresas envolvidas, é feita uma abordagem do caso, levantando-se a hipótese de disputa pelo fundo público para acumulação de capital e busca de maiores taxas de lucro como possível causa para o uso de práticas ilegais pelas empresas.
Palavras-chave: ditadura civil-militar brasileira; corrupção; empreiteiras; fundo público; usina hidrelétrica de Tucuruí.

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Ensaio etnográfico: expressões e escritas camponesas como lugar da memória nas barragens de Tucuruí e Belo Monte. (2014)

Matheus Benassuly, Aquiles Simões, Sônia Magalhães

Resumo

Este ensaio etnográfico faz do uso da fotografia e da escrita de si (FOUCAULT, 1992a) os seus principais instrumentos à compreensão da realidade vivida pelos camponeses submetidos a uma situação de injustiça socioambiental provocada pela construção das barragens de Tucuruí e Belo Monte, remarcando o lugar da memória (NORA, 1993) e da resistência frente a tal situação, vivida em momentos e em contextos distintos. As expressões da vida camponesa à jusante da Hidrelétrica de Tucuruí são evidenciadas nas imagens dos ribeirinhos da comunidade Açaizal enquanto que as fotos dos escritos nos cadernos de Lucimar Barros da Silva, ou simplesmente Lúcio, encarnam e anunciam a dor e o lamento de um camponês que vê seu modo de vida ameaçado pelo deslocamento compulsório  incitado pela construção de Belo Monte, exatamente na área alagada pela barragem.

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Mercado de terras e meio ambiente em áreas de grandes projetos de investimento – o caso da Usina Hidrelétrica de Tucuruí. (2010)

Henri Acselrad

As grandes obras governamentais destinadas à criação de infraestrutura para o desenvolvimento de projetos agropecuários, de exploração mineral e de transformação industrial constituem os vetores da integração de crescentes porções do espaço nacional a padrões de ocupação nucleados pela dinâmica capitalista. Ferrovias, rodovias, represas, usinas hidrelétricas e linhas de transmissão alteram radicalmente espaços físicos regionais, seus respectivos ecossistemas terrestres e aquáticos, bem como as redes de relações sociais constituídas sobre as bases espaciais até então prevalecentes. Desencadeiam-se nessas áreas, por um lado, movimentos de destruição e criação de relações sociais associadas diretamente à dinâmica dos referidos projetos. Dá-se início também, por outro lado, a processos generalizados de ruptura dos condicionantes espaciais das formas sociais vigentes nas áreas de influência desses empreendimentos governamentais. Esta ruptura será tão mais relevante quanto as populações das áreas de implantação destes empreendimentos tiverem suas condições de existência e suas estratégias de trabalho associadas estreitamente ao ambiente físico e ao meio biótico locais. Nesta medida, as condições espaciais da existência social são, via de regra, nessas frentes de expansão dos padrões capitalistas de ocupação do espaço, determinações indissociáveis das próprias formas sociais de apropriação do meio, como o exemplificam as práticas da pequena produção rural associada às atividades extrativas, a agricultura comercial de vazante associada à pesca artesanal, o recurso às terras de matas como objeto de uso comunal etc.

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